Quem me visse a escrever estas palavras julgaria estar na presença de uma senhora idosa, massacrada pela vida e pelas experiências, atropelada pelos longos anos e por toda esta evolução que nos rodeia. Mas não. Desenganem-se todos os que crêem em tal. Sou menina chegada há poucos dias à maioridade, mulher talvez inconformada pela brevidade da vida. Sinceramente, sinto-me velha. Não pelos 18 anos, como é obvio, ou pelo quase término da adolescência. Digo isto pela falta de adolescência que vejo nas gerações procedentes, arrisco até dizer, falta de infância.
Lembro-me do primeiro dia em que entrei na escola primária pela mão do meu pai. Era um dia daqueles em que o sol de Outono brilhava por todos os vidrinhos daquelas janelas. Olhei a professora, o quadro, o chão, tudo o que havia para olhar. Era um mundo totalmente novo. Lembro-me de não conseguir escrever a data no canto do quadro, os meus cento e poucos centímetros não me davam essa possibilidade. Lembro-me das manhãs em que acordava só para ver os desenhos animados, aqueles que realmente eram animados, de trocar as roupas das Barbie’s e de brincar aos Nenuco’s. Tenho saudade dos dias em que andava de bicicleta, saudade do triciclo e de escrever na porta da casa da avó com giz branco a imitar uma professora.
Hoje larguei o secundário, já lá vão uns bons dez anos depois disso. Pareço Fernando Pessoa com tanta nostalgia pela minha infância, mas o que é facto é que não é só a minha que está em causa. O que realmente me atormenta e me faz hoje estar aqui a dissertar sobre toda esta lengalenga é a falta de infância que eu vejo nas gerações posteriores. É triste olharmos para meninos de 9 e 10 anos que não sabem o que é brincar no parque infantil, uma vez por semana que fosse, porque ocupam o tempo com campeonatos de FIFA 2008 na PlayStation. É triste ver crianças que não conheceram um Buereré ou um Jardim da Celeste, pois nasceram na geração dos Morangos Com Açúcar ou das Chiquititas (Chiquititas em versão portuguesa, que se frize, pois «no meu tempo» a mesma série era em brasileiro e por sinal, bem mais engraçada). É decadente, com toda a força que essa palavra carrega, sair à rua e ver protótipos de mulheres e homens a reivindicar a sua pré-adolescência (venero este termo), exibindo os seus telemóveis novos topo de gama e certos de que seis meses depois outros virão. E isto choca-me. Faz-me sentir velha e enrugada, mesmo que ainda a acne me assombre às vezes. E digo isto não pela diferença de idades, mas pela diferença de mentalidades.
Hoje a palavra Infância deixou de fazer sentido. É lamentável a falta de noção desses meninos e meninas do que era uma infância a sério há uma década atrás. A culpa talvez nem lhes pertença, talvez o maior problema fora terem nascido numa geração em que o tempo é escasso, em que nem para crescer há tempo. Uma geração em que já se nasce evoluído, não se sabe o gostinho de aprender, de querer crescer e evoluir. Eu sou da geração que experimentou as fraldas descartáveis, que brincou nas ruas porque o medo não vivia nas nossas mentes e que comprou pastilhas a cinco escudos. Pertenço, e com todo o gosto, à geração que encerrou o conceito de ser criança. E tenho tanta saudade de ser criança.
Lembro-me do primeiro dia em que entrei na escola primária pela mão do meu pai. Era um dia daqueles em que o sol de Outono brilhava por todos os vidrinhos daquelas janelas. Olhei a professora, o quadro, o chão, tudo o que havia para olhar. Era um mundo totalmente novo. Lembro-me de não conseguir escrever a data no canto do quadro, os meus cento e poucos centímetros não me davam essa possibilidade. Lembro-me das manhãs em que acordava só para ver os desenhos animados, aqueles que realmente eram animados, de trocar as roupas das Barbie’s e de brincar aos Nenuco’s. Tenho saudade dos dias em que andava de bicicleta, saudade do triciclo e de escrever na porta da casa da avó com giz branco a imitar uma professora.
Hoje larguei o secundário, já lá vão uns bons dez anos depois disso. Pareço Fernando Pessoa com tanta nostalgia pela minha infância, mas o que é facto é que não é só a minha que está em causa. O que realmente me atormenta e me faz hoje estar aqui a dissertar sobre toda esta lengalenga é a falta de infância que eu vejo nas gerações posteriores. É triste olharmos para meninos de 9 e 10 anos que não sabem o que é brincar no parque infantil, uma vez por semana que fosse, porque ocupam o tempo com campeonatos de FIFA 2008 na PlayStation. É triste ver crianças que não conheceram um Buereré ou um Jardim da Celeste, pois nasceram na geração dos Morangos Com Açúcar ou das Chiquititas (Chiquititas em versão portuguesa, que se frize, pois «no meu tempo» a mesma série era em brasileiro e por sinal, bem mais engraçada). É decadente, com toda a força que essa palavra carrega, sair à rua e ver protótipos de mulheres e homens a reivindicar a sua pré-adolescência (venero este termo), exibindo os seus telemóveis novos topo de gama e certos de que seis meses depois outros virão. E isto choca-me. Faz-me sentir velha e enrugada, mesmo que ainda a acne me assombre às vezes. E digo isto não pela diferença de idades, mas pela diferença de mentalidades.
Hoje a palavra Infância deixou de fazer sentido. É lamentável a falta de noção desses meninos e meninas do que era uma infância a sério há uma década atrás. A culpa talvez nem lhes pertença, talvez o maior problema fora terem nascido numa geração em que o tempo é escasso, em que nem para crescer há tempo. Uma geração em que já se nasce evoluído, não se sabe o gostinho de aprender, de querer crescer e evoluir. Eu sou da geração que experimentou as fraldas descartáveis, que brincou nas ruas porque o medo não vivia nas nossas mentes e que comprou pastilhas a cinco escudos. Pertenço, e com todo o gosto, à geração que encerrou o conceito de ser criança. E tenho tanta saudade de ser criança.